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Textos

Musa

Cadenciando o passo, iluminada, tratou de mostrar tudo de melhor que aprendera em todos os anos de conquista. Concentrou-se nos detalhe tantas vezes estudados. Cada minuto, cada gesto planejado e repetido tantas vezes, quantas fossem necessárias, até atingir a perfeição. Nada poderia desconcentrá-la ou distraí-la. Tantos momentos angustiantes, tanto desejo de superação. Tantas horas perdidas em pequenos espaços sufocantes, em trocas velozes, em arrumações, maquiagens pesadas, exigências descabidas até conseguir atingir um nível em que isto fosse suportável e muito bem remunerado. .As lágrimas começaram a brotar, pela renúncia, sofrimento, perdas imensas tantas vezes sentidas e sublimadas. Apogeu e dificuldades com ele, lutas, sublimação até poder escolher novos caminhos. Neste momento percebia o nascer da liberdade. Não que fosse parar, mas apenas encontrar a beleza de ter seu próprio tempo, seguir seus desejos e curtir o que com muitas renúncias construíra.

Olhando a passarela iluminada, em todos transbordava tristeza. Seria a última vez que a veriam desta forma. Cada passo remetia a tantos outros trilhados, a tantas emoções, encantamento, difícil de explicar. Deusa. Deusa, nada melhor a definiria. Que pesar! Que dor! Como captar cada detalhe sublime deste último e triste compasso? Serena avançava. O mesmo ritual tantas vezes executado. Momentos de puro prazer. Aquele olhar sereno, aquele sorriso triste, as lágrimas, sim, as lágrimas, remetiam para todos os momentos vividos. Como não chorar. Como segurar toda a tristeza desta despedida. Como, sufocar as palavras e simplesmente a deixar viver.
Fechou os olhos, parecendo tentar gravar na memória o grito alucinado de sua platéia _ Giseeeleeeeeeee!


Jane Ulbrich
11/04/2016

 

 


 


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